RioBom sem perspectivas de mudança

by Admin
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RioBom sem perspectivas de mudança

Cláudia Aguiar Rodrigues uma das vencedoras do Prémio Diversidade Cultural no âmbito de um concurso promovido pelo ACM, falou ao BuÉtnico acerca das medidas tomadas pela Câmara Municipal do Porto para requalificação da zona afecta ao RioBom e não só.

BuÉtnico - O que significou este prémio? Teve alguma utilidade prática?

C.A.R. - Esta distinção veio premiar todos os moradores do bairro Riobom, finalmente ouvidos, com uma voz e um rosto, depois de tantos anos escondidos nas escarpas do bairro das Fontaínhas. Um bairro que se ergueu mesmo no coração da cidade do Porto, com vista sobre o Douro. É uma alegria enorme saber que a Antena 1 serviu de canal para que isso acontecesse. No entanto tudo continua na mesma. 

O Laboratório de Habitação Básica e Social tem pensado e já apresentado a câmara do Porto, para aquele local, um projecto de arquitectura que propõe uma reabilitação total de toda a antiga fábrica. Esse projecto inclui também a construção de algumas casas para turismo que devem crescer no coração do bairro envolvendo a comunidade com os turistas.

BuÉtnico -Vai continuar a concorrer?

C.A.R. - Sim, vou concorrer sempre que tenha uma historia válida para ser contada.

BuÉtnico - Foi uma fábrica de curtumes que deu o nome ao bairro, Rio Bom é o nome da família portuguesa dona das terras?

C.A.R. - Sim, RioBom é o nome da família portuguesa que é dona da fábrica, agora em ruínas, e que está ao abandono há cerca de duas décadas. A família veio agora reclamar propriedade sobre o terreno, mas em causa está o direito de uso capião que os moradores apresentam legalmente.

BuÉtnico -Tem acompanhado a evolução da situação em relação à requalificação dessa zona urbana? Acha justa e equilibrada a solução encontrada para resolver a precariedade dos habitantes da zona?

C.A.R. - Estive no inicio do ano com um dos responsáveis pelo projecto preparado para o RioBom, o arquitecto e antropólogo Fernando Matos Rodrigues que me deu conta que a câmara do porto continua sem dar qualquer parecer à situação legal que se vive no bairro.

O primeiro passo da autarquia deveria ser dado no sentido de reconhecer que ali as condições sociais e de habitação são um problema. Mas até ao momento os moradores continuam a ser uma mancha invisível na cidade.

BuÉtnico - Há muitos bairros precários no Porto?

C.A.R. - O Porto é uma cidade que nos últimos 3 a 4 anos tem crescido de um modo substancial. Esse crescimento, naturalmente, tem provocado alguma desordenação a nível urbano, acentuada pela crise económica que o país tem atravessado. A falta de emprego e a deterioração das condições financeiras das pessoas tem engrossado os habitantes das ilhas (bairros de construção clandestina da segunda metade do sec. XIX. 

BuÉtnico - O jornalismo é uma paixão? Desde quando e como tem exercido, pode contar um pouco da sua trajectória?

C.A.R. - Sim, é uma paixão sim. Sou jornalista há 10 anos mas costumo dizer que sou jornalista desde sempre, pois desde que me lembro gosto de contar histórias. É a única coisa que sei fazer.

Tirei o curso de jornalismo na faculdade de letras da universidade de Coimbra, onde fiz parte da Rádio Universidade de Coimbra e do Jornal A Cabra. Estagiei no Diário de Noticias em Lisboa e depois na ilha da Madeira, onde nasci, trabalhei num semanário Noticias da Madeira. Aí fiquei cerca de um ano e logo depois surgiu a oportunidade de entrar para os quadros da RTP. Comecei por colaborar num programa cultural da televisão regional "casa das Artes" e depois entrei para os quadros da Antena 1.

Estou no Porto há cerca de 4 anos e foi aqui que consegui focar grande parte do meu trabalho na Grande Reportagem. Faço parte da equipa de edição feita no Porto da Manhã 2. 

BuÉtnico - Que sonhos para o futuro?

C.A.R. - Para o futuro tenho o sonho de ver uma maior aposta da empresa RTP na rádio que tem contado com a paixão e o profissionalismo dos profissionais para fazer o melhor produto possivel, com cada vez menos jornalistas, com os meios que precisam de ser renovados, sem as condições e direitos que merecem.

Deixo um poema do Manuel António Pina sobre a importância da "Casa":

"Não, com nenhuma palavra abrirás a porta,
nem com o silêncio, nem com nenhuma chave,
a porta está fechada na palavra porta
para sempre.

O azul é uma refracção na boca, nunca o tocarás,
nem sob ele te deitarás nas longas tardes de Verão
como quando eras música apenas
sem uma casa guardando-te do mundo".